O assunto “chupeta” tem vindo a gerar alguma polémica. Será que a criança deve ou não usar chupeta? A verdade é que a chupeta tanto pode trazer benefícios, como também pode produzir efeitos negativos.
Vantagens do uso de chupeta
Estimulação do reflexo de sucção – a chupeta permite estimular o reflexo de sucção, muito importante para a amamentação, no entanto, é importante que a chupeta seja oferecida sempre após a amamentação e com muita moderação;
Antecipação da introdução alimentar – a coordenação do reflexo de sucção prepara o bebé para a introdução alimentar;
Efeito positivo sobre a dor, o desconforto e o stresse – alguns estudos demonstram que a chupeta possui um efeito calmante e pacificador, no entanto vários autores discordam desta forma artificial de acalmar a criança;
Prevenção da morte súbita – a sucção da chupeta introduzida após a 3ª semana de amamentação e apenas durante a noite pode prevenir a Síndrome da Morte Súbita.
Desvantagens do uso de chupeta
Indução do desmame precoce – alguns estudos revelam que crianças que usam chupeta mamam por menos tempo, pois os músculos utilizados para a sucção na chupeta são diferentes daqueles que são utilizados para a sucção no peito, o que poderá gerar confusão no bebé e levar a dificuldades na amamentação. A chupeta deverá ser introduzida após a 3ª semana de vida, quando a amamentação se encontrar bem estabelecida;
Deformações irreversíveis da arcada dentária, se usada após os 2 anos – a arcada dentária irá adaptar-se à presença da chupeta na cavidade oral, podendo surgir uma “mordida aberta”;
Aumento do risco de cáries e infeções – a chupeta pode trazer vírus e bactérias;
Aumento do risco de otites – estudos revelam que as otites são mais comuns em crianças que usam chupeta, uma vez que a sucção da chupeta impede a correta estimulação do músculo responsável pelo funcionamento da tuba auditiva, favorecendo a acumulação de secreções nos ouvidos;
Alteração da tipologia da face – a presença da chupeta na cavidade oral irá influenciar o crescimento facial;
Alteração da postura labial e lingual – os lábios irão assumir uma postura entreaberta e a língua terá uma postura baixa e anteriorizada;
Alteração do padrão respiratório – o uso prolongado de chupeta irá promover a respiração oral, em consequência das alterações faciais que irão surgir. Esta alteração leva, ainda, à diminuição da produção de saliva e ao aparecimento de otites, rinites e amigdalites e a infeções nos pulmões, que passam a receber um ar mais frio, seco e mal filtrado. Poderá, ainda, levar ao surgimento de um palato duro mais alto e mais estreito e de um desvio do septo nasal;
Alterações na mastigação – todas as alterações estruturais e funcionais já mencionadas, irão dificultar uma adequada mastigação;
Alterações na deglutição – poderá surgir uma deglutição atípica/adaptada, por exemplo com interposição lingual ou labial durante a deglutição.
Alterações na fala – as alterações nas estruturas orofaciais e na posição dos articuladores irão afetar a produção dos sons da fala;
Alterações no padrão do sono – perante a presença de uma respiração oral, não será possível que a criança tenha um sono reparador;
Alterações no comportamento e agitação – as alterações do sono traduzem-se em problemas de comportamento e agitação no dia-a-dia da criança.
O que fazer?
É recomendada a retirada da chupeta, se possível, com 1 ano de idade, podendo estender-se, no máximo, até aos 2 anos de idade. Com esta idade, a criança pode recuperar facilmente das alterações que possam ter surgido, pois os ossos são menos duros e mais moldáveis. No entanto, após esta idade, os ossos vão-se tornando menos moldáveis, pelo que as alterações poderão ser irreversíveis, carecendo de uma futura correção com aparelho ortodôntico. Temos de ter, ainda, em consideração que a chupeta tem influência sobre a postura da língua. Mesmo que as estruturas voltem ao normal, num bebé que utilizou chupeta a língua continuará a assumir uma posição baixa e anteriorizada, exercendo pressão sobre os dentes e moldando, assim, a arcada dentária. Consequentemente, estas alterações poderão afetar as funções da fala, da respiração, da mastigação e da deglutição. Caso o bebé procure alternativas, como a sucção no dedo, na língua, na fronha da almofada ou o bruxismo (ranger os dentes), tais hábitos são mais graves do que o uso de chupeta, pois serão mais difíceis de eliminar, pelo que nestas situações será preferível oferecer a chupeta. Se o bebé não demonstrar interesse pela chupeta, não vale a pena forçar.
Qual o melhor tipo de chupeta?
Existem 3 tipos de bico: bico ortodôntico, bico gota/fisiológico e bico cereja.
Cada um destes 3 tipos apresenta características diferentes. Os bicos mais recomendados são o bico ortodôntico e o bico gota, uma vez que se adaptam melhor à cavidade oral, promovendo uma melhor postura labial e lingual durante a sucção. Entre estes dois, o bico gota acaba por ser mais vantajoso, dado que possui orifícios de ventilação que promovem a redução da pressão da língua contra o palato, tornando a sucção mais fisiológica. As chupetas com bico cereja não são recomendadas, por serem grandes e volumosas, originando um espaço entre a cara do bebé e a chupeta, não permitindo um adequado vedamento labial, e a pressão que exerce contra o palato potencia alterações nas estruturas orofaciais.
Alternativas ao uso de chupeta
Em alternativa à chupeta, poderá oferecer à criança outros estímulos que respondam de forma semelhante às suas necessidades, como por exemplo:
Amamentação;
Brinquedos de plástico macios;
Música;
Livro para folhear;
Colo;
Carinho;
Diálogo;
Reduzir ou eliminar a causa do stresse;
Fazer caretas divertidas.
Como ajudar a criança a largar a chupeta?
Nos momentos em que a criança pede a chupeta, tente oferecer-lhe algo que a substitua;
Ajude a criança a explicar aquilo que está a sentir, fazendo-lhe perguntas para descobrir o que a está a acontecer e conforte-a, por exemplo dando-lhe beijos e abraços;
Aproveite as fases em que a criança rejeita ou demonstra menor interesse pela chupeta para ir reduzindo o tempo de oferta, vá espaçando os momentos de uso, facilitando um abandono espontâneo do hábito;
É também importante que não utilize prendedor, para que a chupeta não esteja sempre à mão;
Não dê nomes carinhosos à chupeta, pois irá dificultar o desapego;
Vá retirando a chupeta aos poucos, passando a criança a utilizá-la apenas para adormecer;
Diga à criança que a fada das chupetas vem buscar a sua chupeta para a oferecer a um menino mais pequenino que não tem nenhuma, deixando-lhe em troca um brinquedo. Poderão aproveitar para escrever uma carta de despedida à chupeta.
Texto elaborado por: Dra. Cindy Fernandes, Terapeuta da Fala.
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